No Brasil, as instituições de ensino superior não costumam incluir na grade curricular dos graduandos e pós-graduandos, disciplinas sobre planejamento de carreira. Não se discute na universidade esse assunto. Mas, o que é um planejamento de carreira e qual a importância de se fazer um?
O planejamento de carreira ajuda o profissional a traçar o caminho a ser percorrido e as metas a serem alcançadas dentro da carreira escolhida. O planejamento também pode e deve ser realizado quando o profissional já tem uma posição em uma organização.
Diversas instituições estrangeiras se preocupam com essa temática e oferecem cursos de planejamento de carreira, da graduação ao pós-doutorado. Na literatura, também é possível encontrar artigos científicos sobre o assunto. A ciência comprova que o planejamento de carreira é útil para o desenvolvimento profissional.
Muitos estudantes de graduação e pós-graduação não sabem quais as possibilidades de carreira dentro da sua área. Há os que acham que médico só trabalha em hospital ou clínica; farmacêutico só trabalha em farmácia ou laboratório; biólogo só trabalha com animais, fonoaudiólogo só ensina as crianças a falarem corretamente; quem faz doutorado tem que ser professor universitário, etc. Mas não é bem assim.
Precisamos entender que todas as carreiras oferecem uma gama enorme de possibilidades. O que nos falta é explorar essas possibilidades/abrir os horizontes e encontrar aquela que mais se encaixa ao nosso perfil.
Layton e cols. (2020) observaram em um estudo que o curso de planejamento de carreira possibilitou o aumento da consciência, o interesse e a confiança relacionadas à carreira entre biomédicos estudantes de doutorado e pós-doutorado. Isso se deve ao fato de conseguirem identificar suas habilidades, interesses e valores pessoais.
Com base nesse estudo, proponho algumas perguntas para reflexão:
- Você se conhece?
- Conhece suas habilidades e seus interesses?
- Quais são os seus valores?
Ainda segundo Layton e cols. (2020), o curso de planejamento de carreira aumentou a busca por outros caminhos de carreira, a consciência de habilidades transferíveis, a autoeficácia de gestão de carreira e a familiaridade com a carreira biomédica.
Nas figuras 1 e 2, observamos os resultados pré e pós dos participantes que realizaram o curso de planejamento de carreira. Verificou-se no pós – curso o interesse por possibilidades de carreiras que antes não eram cogitadas pelos estudantes, como cargos administrativos ou de pesquisa na indústria, na polícia. Além disso, houve a diminuição do interesse por áreas normalmente escolhidas, como docentes em universidade e pesquisa não acadêmica, por exemplo.
Figura 1. Participantes entrevistados antes (azul) e depois (vermelho), após participarem do curso PSP (“Preparing Science Professionals”) sobre suas áreas de interesse profissional. NR designa nenhuma resposta para esse item.
Figura 2. Participantes do curso HINAP (“Hope is not a plan (HINAP): Taking charge of your science career”) entrevistados antes (azul) e depois (vermelho), após participarem do curso sobre suas áreas de interesse profissional.
Os cursos presentes no estudo de Layton e cols. (2020) apresentam metodologias diferentes, mas os resultados de ambos demonstram a importância do planejamento de carreira ainda quando estamos na universidade.
Os resultados desse estudo também demonstraram que ter um excelente mentor é fundamental durante esse processo. Muitos dos estudantes participantes da pesquisa que antes não tinham um mentor foram em busca de um e os que já tinham começaram a fazer networking com outros mentores para se desenvolverem ainda mais.
Dessa forma, observamos claramente que falar sobre planejamento de carreira modificou a percepção dos estudantes sobre suas próprias carreiras e os impulsionou a trilhar caminhos antes não cogitados.
Vamos pensar sobre isso?
Andressa Pelaquim
Mestre e Doutoranda em Ciências da Saúde – CCS/UEL
Referência
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