O início de uma carreira científica pode dar a sensação de ser apenas mais uma peça dentro de uma grande engrenagem, especialmente para jovens pesquisadores. Refletir sobre o que impulsiona e define sua identidade científica pode ajudar a identificar oportunidades e fortalecer o senso de propósito, como mostra um artigo da Science. A busca por uma voz própria e por ambientes que a valorizem contribui para o reconhecimento e satisfação na profissão.
Natalie Dean, professora associada da Escola de Saúde Pública da Universidade de Emory, acredita que um pouco de autorreflexão pode fazer uma grande diferença. Segundo ela, é importante definir prioridades e ser intencional sobre o que se aceita ou rejeita, para que os esforços contribuam para uma trajetória alinhada ao propósito pessoal. O artigo compartilha depoimentos de cientistas em diversos estágios de suas carreiras, abordando o desenvolvimento de suas identidades e os desafios enfrentados.
Diversidade de identidades na ciência
Dean se define no ponto de encontro entre a bioestatística e a pesquisa de doenças infecciosas, algo que a fascina desde o ensino médio, quando aprendeu sobre o impacto de epidemias como HIV/AIDS e Ebola. Como mãe de crianças pequenas, ela também valoriza ambientes onde se pode ser autêntico e compreender a complexidade da vida pessoal.
Para Pol Capdevila, pesquisador da Universidade de Barcelona, sua identidade foi moldada por uma curiosidade natural sobre a resiliência dos sistemas naturais, o que o levou da pesquisa empírica à modelagem teórica. Ele destaca que, à medida que sua carreira evoluiu, seu foco passou a incluir captação de recursos e formação de alunos, além da pesquisa.
Já Laura Young, doutoranda em resiliência climática na Universidade Abertay, é motivada pela possibilidade de criar impacto social por meio de políticas e sustentabilidade. Ela utiliza as redes sociais para divulgar seu trabalho e se engaja publicamente como ativista ambiental, reconhecendo a importância do apoio de sua família e rede de amigos para seguir adiante em uma área que pode ser desgastante.
Superando barreiras e aprendendo ao longo da jornada
Os desafios também moldam a identidade científica de muitos. Chrystal Starbird, professora da Universidade da Carolina do Norte, enfrentou dificuldades financeiras durante a graduação, além de cuidar de filhos e lidar com o diagnóstico de uma condição cardíaca rara em seu marido. Para ela, as adversidades não a impediram de seguir na ciência e reforçaram seu compromisso em tornar o ambiente científico mais inclusivo.
Erin Maloney, professora de psicologia da Universidade de Ottawa, enfrentou a progressiva perda de visão. Transformar essa realidade em uma oportunidade para defender a acessibilidade foi um marco em sua trajetória. Ela acredita que a transparência e autenticidade em sua experiência são essenciais para construir pontes em sua atuação científica.
Dicas de visibilidade e afirmação profissional
Estabelecer uma identidade científica pode envolver ações estratégicas de visibilidade. Rhianna Garrett, pesquisadora em estudos de raça mista na Universidade de Loughborough, encoraja jovens cientistas a criarem seu próprio espaço, sendo autênticos e resistentes às pressões de se conformar a uma “identidade acadêmica padrão”. Ela defende o valor de construir redes de apoio que acolham sua diversidade.
Outros cientistas, como Dean, sugerem a importância de uma rede de contatos sólida. Ela destaca que participar de eventos e promover o próprio trabalho ajuda a dar visibilidade, algo que muitos ainda percebem como “autopromoção”.
Para a próxima geração de cientistas
O artigo conclui com conselhos para aqueles que estão em início de carreira. Fabiana Visentin, professora assistente de economia do conhecimento na Universidade de Maastricht, enfatiza a importância de escolher mentores que incentivem o desenvolvimento da voz própria do pesquisador. Andrew Akbashev, cientista sênior em ciência dos materiais, reforça a importância de explorar territórios inusitados, pois é ali que as descobertas são mais prováveis.
A construção de uma identidade científica autêntica não é um caminho linear, mas como mostram as experiências compartilhadas, investir em propósito e autenticidade pode ser um diferencial essencial para uma carreira gratificante e de impacto.
Referência: Science Magazine