Parosmia, você já ouviu falar?
Nas últimas semanas alguns sites trouxeram relatos de algumas pessoas que, após terem sido infectadas pelo COVID-19 persistem com alterações olfatórias, como foi o caso da Kate McHenry de 38 anos, que teve COVID-19, e relatou a BBC:
“Um simples copo d’água carrega um fedor horrível. Tomar banho se tornou uma experiência quase insuportável.”
“Meu shampoo favorito agora tem o cheiro mais desagradável do mundo.”
“Carne tem gosto de gasolina, e prosecco, de maçã podre.”
No entanto, a Kate e outras pessoas não estão enfrentando a ausência desses sentidos, mas sim tendo uma distorção no olfato. Essa distorção é denominada parosmia.
A parosmia é uma disfunção qualitativa do olfato que ocorre na presença de um odor. Na literatura, a explicação para as disfunções qualitativas ainda não é clara, mas acredita-se que ocorra uma disfunção parcial dos neurônios receptores olfatórios, que leva à incapacidade de formar um padrão de ativação típico para um odor específico no bulbo olfatório. Outra hipótese é que a parosmia seja o resultado de uma distorção no processamento dos odores pelo sistema nervoso central (SNC), por exemplo, no bulbo olfatório e / ou em áreas associativas relacionadas à olfação.
Iannilli e cols. (2019) investigaram o processamento central dos odores de indivíduos que apresentam hiposmia associada com a parosmia e de indivíduos com hiposmia, mas sem parosmia. Para tanto, utilizaram para a avaliação psicofísica do olfato o teste olfatório “Sniffin’ Sticks” e para a avaliação do SNC realizaram a Ressonância Magnética Funcional (MRI).
No grupo sem parosmia, os cientistas observaram um aumento significativo da ativação no córtex orbitofrontal direito, no córtex cingulado anterior esquerdo, giro para-hipocampal esquerdo e da ínsula direita, em relação ao grupo com parosmia. Nos indivíduos com parosmia, observou-se o aumento da ativação no tálamo esquerdo e no putâmen direito.
Esses resultados demonstraram que os pacientes com hiposmia, mas sem a parosmia tiveram a ativação de áreas que são tipicamente ativadas após a estimulação olfatória. Entretanto, o processamento cortical dos estímulos olfatórios foi regular, embora em um nível um pouco inferior. Já os indivíduos com a parosmia exibiram uma maior ativação do tálamo, conhecido por estar relacionado à atenção direcionada em relação ao sentido do olfato e ao putâmen. Um aumento da atividade no putâmen na condição patológica de parosmia sugere que esta área pode ser (pelo menos em parte) responsável pela percepção distorcida dos odores.
Dessa forma, esse estudo demonstrou que há alteração no processamento da informação olfatória ao nível do SNC em indivíduos com parosmia, e que essa distorção no processamento central dos odores provavelmente tem início no epitélio olfatório e/ou no bulbo olfatório.
No caso da COVID-19, alguns indivíduos acometidos estão persistindo com as alterações olfatórias. Para Claire Hopkins, presidente da Sociedade Britânica de Rinologia (BRS), “Há uma boa chance de recuperação, mas há diversas pessoas que perdem o olfato por bastante tempo, e o impacto disso tem sido completamente menosprezado.”
Importante lembrar que os odores têm um papel importante na memória, no humor e nas emoções dos seres humanos. Então a parosmia implica diretamente a qualidade de vida dos indivíduos.
Caso você seja acometido por COVID-19 e apresente alteração no olfato e paladar, procurem um otorrinolaringologista para uma avaliação do olfato e tratamento adequado dos sintomas.
Andressa Pelaquim
Mestre e Doutoranda em Ciências da Saúde – CCS/UEL
REFERÊNCIAS
Iannilli E, Leopold DA, Hornung DE, Hummel T. Advances in Understanding Parosmia: An fMRI Study. ORL J Otorhinolaryngol Relat Spec. 2019;81(4):185-192. doi:10.1159/000500558.
BBC News (2020). Carne agora tem gosto de gasolina para mim’: os efeitos da covid-19 no paladar Disponível em: .htm?cmpid=copiaecolahttps://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/08/31/carne-agora-tem-gosto-de-gasolina-para-mim-os-efeitos-da-covid-19-no-olfato.htm
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