POTENCIAL EVOCADO OLFATÓRIO RELACIONADO A EVENTOS (OERPs)
A avaliação do olfato é normalmente realizada por métodos psicofísicos, como o Teste Sniffin’ Sticks e o Teste de identificação do olfato da Universidade da Pensilvânia – UPSIT. No entanto, esses testes requerem dos pacientes funções cognitivas complexas. Fornazieri (2013) em sua pesquisa de validação do UPSIT para a população brasileira identificou que as condições socioculturais e econômicas do individuo podem influenciar negativamente no resultado do teste olfatório. Mas como avaliar o olfato de maneira objetiva? O olfato pode ser avaliado de forma objetiva através do Potencial Evocado Olfatório relacionado a eventos (OERPs).
O OERPs é um exame eletrofisiológico para a avaliação da função olfatória. Assim como os potenciais evocados auditivos (PEAs) avaliam a audição por meio de um estímulo auditivo, o OERPs é um potencial desencadeado por um estímulo sensorial olfatório.
Os OERPs refletem a ativação sequencial de diferentes áreas relacionadas com a olfação, a partir do bulbo e folheto olfatório, além de envolver o córtex orbitofrontal e insular, juntamente com o rostro-medial e regiões do lobo temporal.
Esse potencial é formado por um grande componente negativo, denominado N1, seguido por um grande componente positivo P2, que apresentam amplitudes máximas. Há também a presença dos componentes P1 e N2, porém muitas vezes não são detectáveis.
Os componentes P1 e N1 refletem a atividade cortical exógena relacionada à detecção do estímulo e ao processamento sensorial primário. O componente P2 reflete a atividade cortical endógena relacionada ao processamento cognitivo secundário.
Caminiti et al., (2019) Traçados de OERPs
Os parâmetros utilizados para a análise dos OERPs são: a latência, que é o tempo entre a entrada do estímulo olfatório e a despolarização da estrutura cortical relacionada ao componente, para que ocorra o processamento da informação sensorial; e a amplitude de resposta, que evidencia a atividade sináptica durante o processamento cortical. Podemos considerar os OERPs um potencial de longa latência, pois seu principal componente (P2) apresenta latência em torno de 530 a 800ms após estimulação sensorial. A interamplitude de N1-P2 é observada aproximadamente entre 4 e 20 mV.
A presença de OERP é um forte indicador de boa qualidade olfativa, enquanto que ausência pode indicar uma perda olfatória.
A má notícia é que o equipamento para a avaliação olfatória por meio dos OERPs não evoluiu como no caso dos PEAs. É uma avaliação que ainda se encontra em grandes centros de pesquisa, devido ao alto custo do Olfatômetro.
Olfatômetro OL022, Burghart, Medical Instruments
https://www.burghart-mt.de/en/medical-devices/olfactometry-and-gustometry.html
No entanto, as diversas pesquisas realizadas principalmente pelo grupo do Prof. Dr. Thomas Hummel, da Universidade de Dresden, na Alemanha, nas mais variadas doenças que acometem a função olfatória, mostram que o OERPs é um método excelente para avaliar de forma objetiva a qualidade olfatória.
Andressa Pelaquim
Doutoranda em Ciências da Saúde – UEL
Referências
FORNAZIERI MA. Validação do Teste de Identificação do olfato da Universidade da Pensilvânia (UPSIT) para brasileiros. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, FMUSP. 2013.
CAMINITI F, DE SALVO S, DE COLA MC, et al. Detection of olfactory dysfunction using olfactory event related potentials in young patients with multiple sclerosis. PLoS One. 2014; 9:e103151. doi:10.1371/journal.pone.0103151.
CAMINITI F, CIURLEO R, DE SALVO S, GALLETTI F, BRAMANTI P, MARINO S. Olfactory event-related potentials in a functionally anosmic patient with arrested hydrocephalus. J Int Med Res. 2019;47:1353-1358. doi:10.1177/0300060519826850.
SCHRIEVER VA, GÓIS-EANES M, SCHUSTER B, HUART C, HUMMEL T. Olfactory event-related potentials in infants. J Pediatr. 2014; 165:372-375.e2. doi:10.1016/j.jpeds.2014.04.033.
HAN P, SCHRIEVER VA, PETERS P, OLZE H, UECKER FC, HUMMEL T. Influence of Airflow Rate and Stimulus Concentration on Olfactory Event-Related Potentials (OERP) in Humans. Chem Senses. 2018;43:89-96. doi:10.1093/chemse/bjx072.
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