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A POLUIÇÃO DO AR PREJUDICA O OLFATO?

A POLUIÇÃO DO AR PREJUDICA O OLFATO?

A POLUIÇÃO DO AR PREJUDICA O OLFATO? Vivemos em cidades extremamente poluídas, mas como não vemos os agentes tóxicos materializados a nossa frente, não percebemos os níveis elevados aos quais estamos expostos e muito menos o quanto isso é prejudicial para nossa saúde.

Segundo dados no Ministério da Saúde, as mortes causadas por Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) decorrentes da poluição aérea saltaram de 38.782 em 2006 para 44.228 mortes em 2016, o que equivale a um aumento de 14% em dez anos. E as principais doenças atribuídas à poluição atmosférica foram câncer de pulmão, traqueia e brônquios e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Mas será que a poluição aérea diminui nossa capacidade de sentir cheiros?

Estudos demonstram que pessoas expostas a altas concentrações de agentes tóxicos no ambiente de trabalho são mais suscetíveis a ter alterações olfatórias. No entanto, várias pesquisas identificaram que a poluição atmosférica experimentada pela população em geral também pode acelerar o aparecimento da perda olfatória.

O estudo de Calderón-Garcidueñas e cols. (2013) demonstrou que partículas finas transportadas pelo ar (PM2,5; diâmetro aerodinâmico ≤ 2,5 μm) entram no epitélio olfativo, atingem o bulbo olfativo e chegam ao córtex olfativo e até a outras regiões do cérebro.

Calderón-Garcidueñas et al. (2004) encontraram em um estudo evidências patológicas no tecido cerebral, incluindo o bulbo olfatório. Em residentes da Cidade do México, observou a presença de ciclooxigenase-2 (COX-2) e de proteína beta-amilóide, além de beta-amilóide nas células de suporte do nervo olfatório. Já nos habitantes de cidades com baixo nível de poluição não foi encontrado, no tecido olfatório, a COX-2 ou beta-amilóide.

 

Ajmani et al. (2016). Summary of proposed mechanism of air pollution entry into olfactory tissues. (A) Passage of inhaled air through nasal cavities, including small airflow up to olfactory mucosa. (B) Passage of inhaled airborne pollutants through olfactory tissue: 1, uptake of pollutant by olfactory sensory neurons (OSNs); 2, translocation up OSNs’ axons (CN I) through cribriform plate to the olfactory bulb (OB); 3, uptake of pollutant within OB by 2° olfactory neurons; 4, translocation along 2° olfactory neurons to 1° olfactory cortex. Lightning bolts indicate sites of pollution-induced cellular stress, cytotoxicity, and inflammation.

Hudson et al. (2006) realizou um estudo epidemiológico comparando residentes da Cidade do México expostos a níveis elevados de poluição aérea com residentes da cidade vizinha de Tlaxcala, supostamente com níveis mais baixos de poluição. Quando realizaram o teste de limiar e discriminação de odores utilizando café e suco de laranja, os resultados demonstraram que os habitantes de Tlaxcala conseguiram identificar os odores em concentrações mais baixas em relação aos que viviam na Cidade do México. Outro achado é que a diferença foi maior entre os participantes de 20 a 49 anos. Já entre os participantes de 50 a 63 anos as diferenças mínimas, muito provavelmente pelo declínio normal do sistema olfatório relacionado ao envelhecimento.

Esse estudo mostra que mesmo em pessoas mais jovens a poluição atmosférica pode comprometer a capacidade olfatória.

Outros dois estudos posteriores, Sorokowska et al. 2013 e Sorokowska et al. 2015 investigaram a capacidade olfatória de indivíduos que viviam em regiões industrializadas e não industrializadas. Em ambos os estudos, indivíduos residentes em regiões não industrializadas apresentaram melhor função olfatória em relação aos indivíduos residentes em lugares industrializados.

Como podemos ver, a poluição atmosférica pode comprometer até as regiões corticais envolvidas na função olfatória. Em países como Japão e China, as pessoas têm o costume de usar máscaras, justamente para proteger as vias aéreas da poluição.

Então prezar por cidades menos poluídas não é uma bobagem. No entanto, diminuir a emissão de gases poluentes é nosso dever quanto cidadão. Só assim teremos mais saúde e qualidade de vida.

 

Andressa Pelaquim
Doutoranda em Ciências da Saúde – UEL
REFERÊNCIAS
Ministério da Saúde – BRASIL. Mortes devido à poluição aumentam 14% em dez anos no Brasil (2019). Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45500-mortes-devido-a-poluicao-aumentam-14-em-dez-anos-no-brasil
Calderón-Garcidueñas L, Serrano-Sierra A, Torres-Jardón R, Zhu H, Yuan Y, Smith D, et al. 2013. The impact of environmental metals in young urbanites’ brains. Exp Toxicol Pathol 65 503 511, doi:10.1016/j.etp.2012.02.006.
Calderón-Garcidueñas L, Reed W, Maronpot RR, Henríquez-Roldán C, Delgado-Chavez R, Calderón-Garcidueñas A, et al. 2004. Brain inflammation and Alzheimer’s-like pathology in individuals exposed to severe air pollution. Toxicol Pathol 32 650 658, doi:10.1080/01926230490520232.
Hudson R, Arriola A, Martínez-Gómez M, Distel H. 2006. Effect of air pollution on olfactory function in residents of Mexico City. Chem Senses 31 79 85, doi:10.1093/chemse/bjj019.
Sorokowska A, Sorokowski P, Hummel T, Huanca T. 2013. Olfaction and environment: Tsimane’ of Bolivian rainforest have lower threshold of odor detection than industrialized German people. PLoS One 8 e69203, doi:10.1371/journal.pone.0069203
Sorokowska A, Sorokowski P, Frackowiak T. 2015. Determinants of human olfactory performance: a cross-cultural study. Sci Total Environ 506–507 196 200, doi:10.1016/j.scitotenv.2014.11.027

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