Um novo método que usa um corante capaz de deixar a pele temporariamente transparente pode revolucionar a pesquisa médica, permitindo que cientistas observem o interior do corpo de camundongos vivos de maneira não invasiva. O estudo, publicado na revista Science em 6 de setembro de 2024, destaca o potencial dessa técnica para monitorar órgãos e estruturas internas em tempo real, sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos.
O corante que torna os tecidos transparentes
Pesquisadores descobriram que o tartrazina, um corante utilizado em alimentos processados, como Doritos, pode ser aplicado na pele de camundongos para torná-la transparente. Isso possibilita visualizar vasos sanguíneos, órgãos internos e até fibras musculares. A técnica oferece uma maneira menos invasiva de estudar animais em pesquisas médicas, o que pode ser útil em investigações sobre o sistema nervoso e doenças neurodegenerativas.
Como funciona o método?
O corpo de animais como os camundongos possui diferentes componentes, como fluidos, gorduras e proteínas, que interagem com a luz de maneiras variadas, criando uma opacidade natural. No entanto, ao aplicar um corante que absorve bastante luz, como o FD&C Yellow 5 (tartrazina), os pesquisadores conseguiram alterar o modo como a luz se comporta ao atravessar os tecidos, tornando-os translúcidos. A técnica funciona até uma profundidade de 3 mm, o que é suficiente para observar estruturas superficiais.
Aplicações em pesquisa científica
Ao aplicar o corante no couro cabeludo dos camundongos, a equipe foi capaz de observar a rede de vasos sanguíneos. Na região abdominal, visualizaram o movimento do intestino durante a digestão e a respiração. Além disso, ao aplicarem o corante na perna, conseguiram distinguir fibras musculares sob a pele. Como o corante é seguro para uso em animais vivos e o processo é reversível, bastando lavar o corante para que a pele volte ao normal, a técnica oferece vantagens significativas em relação aos métodos atuais de transparência de tecidos, que muitas vezes exigem procedimentos químicos irreversíveis.
Perspectivas futuras
Philipp Keller, do Janelia Research Campus, elogia a descoberta como uma “grande inovação”, afirmando que a técnica tem grande potencial para estudos de doenças do sistema nervoso e condições neurodegenerativas. Com o uso seguro de corantes alimentares e a possibilidade de reverter o efeito, essa abordagem pode abrir novas possibilidades para a ciência médica e a biologia.
Essa descoberta promete revolucionar o modo como são conduzidas pesquisas com camundongos, reduzindo a necessidade de procedimentos invasivos e oferecendo um novo olhar sobre os processos biológicos em tempo real.
Referência:
Ou, Z. et al. Science 385, eadm6869 (2024).